Asceta
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Ai! Não me toquem! Isto do Povo!
Se é verdade que a senhora que escreve esse Blog é mesmo a que estamos a pensar.... então... perdoai-lhe, porque!....
Não resisti. É muito difícil resistir a tamanha provocação. Então não é que a senhora que agora apresenta um programa na 2: (saudades de CPCoelho!) anda a escrever as suas revoltas pessoais num
blog! E desta vez sobre a necessidade de separação de públicos nas salas de cinema... perfiro não fazer comentários e remeter apenas para o dito cujo -
Possibilidade do Sentir.
E parece que o sentiu mesmo!
Diz a senhora: "alguém que se desloca a um destes espaços para apreciar um bom filme acaba por ver os seus sentidos devassados por comportamentos desagradáveis de pessoas que ali estão como poderiam estar em casa a ver uma telenovela, num estádio de futebol ou participando noutra qualquer forma de diversão mais popular. "
E depois: "Fui empurrada, pisada e tratada de um modo absolutamente decadente pelos frequentadores habituais do espaço. Quando expressei verbalmente o meu descontentamento, fui insultada e achei melhor desistir do filme até porque, de qualquer forma, não me conseguiria concentrar no écran. Deixo a questão: Para quando uma separação absoluta dos públicos?"
E ainda diz que "eu própria sou uma mulher do povo".
Ai que bonito!
Por amor de Deus... não há ninguém que lhe diga alguma coisa!...
No final
Como se não tivesse substância e de membros apagados.
Desejaria enrolar-me numa folha e dormir na sombra.
E germinar no sono, germinar na árvore.
Tudo acabaria na noite, lentamente, sob uma chuva densa.
Tudo acabaria pelo mais alto desejo num sorriso de nada.
No encontro e no abandono, na última nudez,
respiraria ao ritmo do vento, na relação mais viva.
Seria de novo o gérmen que fui, o rosto indivisível.
E ébrias as palavras diriam o vinho e a argila
e o repouso do ser no ser, os seus obscuros terraços.
Entre rumores e rios a morte perder-se-ia.
"Nascimento Último",
No Calcanhar do Vento, António Ramos Rosa
Invisibilidades
dizem que em sua boca se realiza a flor
outros afirmam:
a sua invisibilidade é aparente
mas nunca toquei deus nesta escama de peixe
onde podemos compreender todos os oceanos
nunca tive a visão de sua bondosa mão
o certo
é que por vezes morremos magros até ao osso
sem amparo e sem deus
apenas um rosto muito belo surge etéreo
na vasta insónia que nos isolou do mundo
e sorri
dizendo que nos amou algumas vezes
mas não é o rosto de deus
nem o teu nem aquele outro
que durante anos permaneceu ausente
e o tempo revelou não ser o meu
"A Invisibilidade de Deus", in
O MEDO de AL BERTO
Collector
NOITE QUE FAZ DANÇAR
É de noite que ele dança, fulgurante
e ébrio, como uma espada de sangue
no deserto. A cidade esvazia-se nas casas,
inventa uma árvore morta, um sonho circular
que se escoa num novelo, entre os dedos.
E quando a noite finda e os homens ressuscitam,
ele transporta uma tábua dentro do peito
como um vírus roendo o seu próprio ninho.
Jaime Rocha, "Do Extermínio"
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